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Pe. João Batista Antwerpen, osfs

UM LEGADO MISSIONÁRIO

Eu, Pe. Leoclides Dalla Nora, osfs, conheci o Pe. João van Antwerpen quando eu tinha 14 anos, no Seminário, em Braga. Num belo dia, estávamos na sala de estudo e de repente tocou a sineta. Era para os 80 seminaristas que lá estavam irem até o pátrio para receber o Pe. João Antwerpen e o Pe. Guilherme van Rooden que estavam chegando da Holanda para trabalhar no Seminário.
Foi no dia 21 de abril de 1966. Pe. João tinha 34 anos de idade. Éramos adolescentes e não entendíamos bem o sentido da chegada destes dois missionários. Pe. João chegou para ocupar-se com os trabalhos da lavoura, galinhas, porcos e outras coisas práticas e Pe. Guilherme para ser professor e formador. Pe. Joao não conseguia dizer nenhuma palavra em português. Nós “piazada” fomos os professores dele.

Falando com o coração
Vou falar um pouco de minha vivência com Pe. João ao longo dos seus 55 anos de Brasil. No Seminário do Braga, o Pe. João ocupou-se com os serviços pequenos, simples e práticos e com isso fazia funcionar as coisas grandes e relevantes do Seminário. Hoje entendo que ele nos recordava que a Vida Religiosa Consagrada deve estar voltada especialmente aos pequenos e simples. Depois dessa experiência rica e marcante com as coisas práticas do cotidiano, ele foi transferido para trabalhar na pastoral paroquial, na Paróquia de Santa Bárbara do Sul.

Na pastoral ocupou-se com a animação das comunidades eclesiais e o incentivo na formação de lideranças. Ali descobriu que Deus lhe tinha dado outro dom: Ser Presbítero. Imaginem com 52 anos de idade começar os estudos para ser Padre. Imaginem eu formador em Viamão acolher ele na nossa Casa de Formação junto com outros jovens formandos de 22 a 27 anos de idade. Imaginem todas as manhãs depois de nossa oração e do café da manhã ele tomava a sua pastinha com livros de Teologia e ao lado de Pe. Roque Bisognin, pegar o ônibus e ir para a Faculdade de Teologia na PUC, em Porto Alegre e ficar sentado uma manhã inteira ocupando-se com os estudos de Teologia.

Fica em meu coração a imagem de um Irmão Consagrado com uma motivação vocacional muito clara. Ele queria se preparar para um dia ser ordenado e assim servir melhor o Povo de Deus. Foi se formando numa vida totalmente doada, por amor. Teve uma bela e linda qualidade de vida, primeiro com Irmão Religioso e depois com Padre.

Pe. João – mais uma vítima do Covid 19
Pe. João ficou 29 dias internado na UTI do Hospital de Caridade, em Palmeira das Missões. Logo pensei e rezei: que não seja mais uma das vítimas do Covid 19. Porém, isso mesmo iria acontecer. Eu pude visitá-lo nos últimos dois dias de sua vida. Duas experiências me marcaram nestas duas visitas:

O encontro com Pe. João e o atendimento dos funcionários da saúde da UTI do Hospital. Quando cheguei no quarto, o Pe. João estava acordado e com um olhar sereno, como quem queria dizer: “… é, chegou a minha hora”.

Ele não podia falar muito, por isso evitei perguntas. Ficou emocionado… Minhas palavras foram: “…coragem Pe. João, você foi um homem bom, trabalhador, zeloso com as coisas de Deus. Ele não vai lhe abandonar. Ele está ao seu lado, junto de você.

Confiança! Coloque sua vida na mão Dele. Ele ama você”. Depois fiquei ali sem falar olhando para os aparelhos que o monitorava e no final dei a benção e disse: “eu volto amanhã”. O médico com muita gentileza me acompanhou até a porta de saída e despediu-se. Pensativo fui até a Casa Paroquial para falar com Pe. Nildo.
O encontro com Pe. João e o atendimento dos funcionários da saúde da UTI do Hospital. Quando cheguei no quarto, o Pe. João estava acordado e com um olhar sereno, como quem queria dizer: “… é, chegou a minha hora”.

Ele não podia falar muito, por isso evitei perguntas. Ficou emocionado… Minhas palavras foram: “…coragem Pe. João, você foi um homem bom, trabalhador, zeloso com as coisas de Deus. Ele não vai lhe abandonar. Ele está ao seu lado, junto de você.

Confiança! Coloque sua vida na mão Dele. Ele ama você”. Depois fiquei ali sem falar olhando para os aparelhos que o monitorava e no final dei a benção e disse: “eu volto amanhã”. O médico com muita gentileza me acompanhou até a porta de saída e despediu-se. Pensativo fui até a Casa Paroquial para falar com Pe. Nildo.

Uma realidade a ser enfrentada
Falei: “Pe. Nildo temos que ser realistas. Ele não vai voltar para casa com vida. Vamos pensar os próximos passos: velório, contatos, sepultamento, sepultura, etc”. No dia seguinte voltei e fui ao hospital. Quando entrei no quarto percebi que Pe. João não abria mais os olhos e nem reagia com minha presença.
Logo chegou o médico, chefe da UTI, e falou da situação delicada de Pe. João: “De ontem para cá regrediu muito. Seus órgãos vitais estão comprometidos. Se fosse uma pessoa mais jovem reagiria diferente”. Eu disse: “É a lei da vida, coloquemos nas mãos de Deus e que seja feita a Sua vontade”. No final o médico acompanhou-me gentilmente até a saída da UTI. No dia seguinte, 27 de agosto 2021, às 13:30hs, recebi a notícia de que o Pe. João partiu deste mundo para a Casa do Pai. Eu só tenho a dizer: “Gratidão e louvor a Deus por esta vida doada e consumida no amor”. DSB
Pe. Leoclides Dalla Nora, osfs
Passou em nosso meio fazendo o bem…
Testemunho de Pe. Nildo de Melo, osfs

Caros coirmãos, coube à nossa comunidade acompanhar a enfermidade do Padre João. Foram dias de sofrimento, mas também de fé e de amor. Sentimos um vazio enorme em nós e em nossa casa com a sua partida. Ficou as lembranças da pessoa presente e intensa que ele foi.
No dia 26 de Julho Padre João apresentou os primeiros sintomas. A partir desse dia, procurei não deixá-lo sozinho, sendo solícito a tudo que era possível, preparando o alimento, vendo os remédios e permanecendo acordado para observá-lo. Um médico, Dr. Alex, o acompanhava em casa. No dia 28 ele positivou para COVID-19. Os profissionais da saúde do COVID passaram a acompanhá-lo. No dia 30 ele foi internado no Hospital de Caridade.

Eu me “internei” com ele. Os médicos Dr. Suzano e Dr. Aloísio eram os responsáveis.
No domingo, 01 de agosto, DIA DO PADRE, celebramos a missa no quarto do hospital. Foi muito especial. No dia 02 a asma se agravou. Ele pediu a Confissão Geral e a Unção dos Enfermos. Depois falou com o nosso Provincial e com o Bispo Diocesano. Todos os dias, líamos o Evangelho e rezávamos. Sempre fomos amparados pela comunidade paroquial, com orações e mensagens. Os profissionais do Hospital de Caridade foram muito bons para com ele.
Na noite de 04 de agosto, percebendo o declínio de sua saúde, fiz o possível para que fosse transferido à UTI. Na mesma madrugada, ele foi transferido. Voltei para a casa, pois não me permitiram ficar na UTI. Fiquei em isolamento. Estando na UTI, ele apresentou melhoras. Na manhã de 09 de agosto, ele voltou ao quarto e eu retornei também. Minha atenção estava sempre voltada em ampará-lo, cuidá-lo, diminuir seu sofrimento e não deixá-lo na solidão.
Na noite de 11 de agosto, os exames estavam alterados. O médico, Dr. Aluísio, me comunicou que ele voltaria à UTI. Eu rezei a missa para ele, ele comungou. Novamente administrei a Unção dos Enfermos. Comuniquei a ele que seria levado. Ele concordou. Então, ele foi para a UTI. Eu voltei para a casa, ficando mais um período em isolamento. Na UTI pude visitá-lo poucas vezes. Padre Leoclides também. Na minha última ida, levei a Eucaristia. Ele comungou. Mostrei a foto das três irmãs dele. Ele sorriu e ficou feliz. Eu rezava o tempo todo. Ele me chamava o tempo todo também. E muitas vezes me disse: “É difícil”. Fiz o que estava ao meu alcance e ele sempre aceitou de bom grado.

Queridos coirmãos, Padre João deixou um testemunho muito eloquente como ser humano, como Padre e como Oblato de São Francisco de Sales. Passou em nosso meio fazendo o bem. Agradeço por todo amor para com ele, que sempre soube que os Oblatos o amavam. Ele também soube que vocês o acompanhavam. Ele os amava muito. Doeu sua partida. O que nos consola é que ele foi transferido para a Comunidade Salesiana do Céu, onde estão todos os Oblatos que nos antecederam, nossos santos padroeiros e fundadores.
Um abraço, com a ternura de Jesus Cristo.
Pe. Nildo Moura de Melo, OSFS

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